"MARIANA nos convida para uma interessante jornada, emprestando-nos “seu olhar” para mostrar,
através da narrativa de seus pensamentos, sentimentos e emoções, tudo que existe além das “DIS-HABILIDADES”.
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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A menina que morreu

Eu devia ter uns 5 anos.
Estava brincando no quintal... era meio da tarde...
naquele longo quintal da casa da minha avó, no Paraíso.

Naquele quintal enorme...
do grande carvalho e dos eucaliptos, que marcavam o começo do fim do quintal.
Era lá que ficavam o balanço... a pitangueira... Depois deles, havia uma espécie de mato grande, lugar de pouco acesso, cercado pelo muro que, nesse pedaço, era coberto de musgo. Foi lá que, em um tempo, meu avô construiu um grande galinheiro... com galinhas todas brancas.

Estava naquela outra parte ensolarada, mais próxima da casa...
naquele espaço cortado por um caminho que separava o canteiro de flores, da horta...
daquele pedaço de muro...
que tinha um buraco de onde podia ver a casa do vizinho.

Entre a casa e o quintal havia um largo corredor na entrada da casa,
com um portão de madeira muito alto, pintado de marrom,
que fazia barulho quando se abria e quando se fechava.
Foi o barulho do portão que me chamou a atenção.

Minha mãe e minha avó tinham chegado da rua e logo foram contando para o meu avô o acontecido, sem saber que eu estava ouvindo. Elas falaram do bonde, do bonde camarão... uma coisa assim... de uma menina que morava numa rua em que passava o bonde... e que ela tinha morrido. Fiquei assustada, sem compreender direito!!!
A menina estava brincando de pular, pular corda... pular os degraus da casa... se desequilibrou e o vaso virou sobre ela e ela morreu.
Que história aquela!

Como será que um vaso pode cair e matar uma menina?
Precisava saber logo como isso podia acontecer. Desci correndo as escadas do quintal... entrei em casa... perguntando como e por quê. Não devia ter ouvido a história, por isso eles desconversaram... e eu fiquei para sempre querendo entender como tudo tinha acontecido.

Em minha memória, era uma casa perto de uma esquina onde o bonde fazia a curva. A casa tinha uma escada na entrada, com dois grandes vasos... e a menina brincando... encostou em um deles... e de repente... alguma coisa aconteceu e ela morreu. Como? Onde?
Fiquei sem saber.
Foi só agora, escrevendo as histórias, que descobri.

Este episódio mudou completamente o rumo da minha vida,
sem mesmo saber direito o que tinha acontecido.

Minha mãe tinha ido ver uma casa na rua, para a gente mudar e ficou sabendo do ocorrido. Por causa disso, deixei de ir morar no Bosque e fui morar no Jardim.

Nunca esqueci a aflição que senti...
pensando na menina com seu vestido de organdi,
na poça de sangue e terra...

Suely Laitano Nassif
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Um comentário:

  1. Lidar com a morte não é nada fácil, e nem precisa ser a morte de alguém; pode ser a morte de uma maneira de ser, a morte de uma idéia, a morte de uma crença... Assim como a Mariana ficou se perguntando como aquela menina tinha morrido e, de repente, deixado de estar entre nós, também nos perguntamos como morreu um sonho, uma esperança, uma idéia que parecia tão boa... E tudo que fica, nos lembra daquilo que se foi: objetos, como o vestido de organdi; pessoas, como a família da menina. O sangue e a terra são o que ficam de concreto. E a alma, que se foi e deixou sem vida aquela pessoa? Assim como a alma de muitas coisas que se vão, conforme nos lembra James Hillman.

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