"MARIANA nos convida para uma interessante jornada, emprestando-nos “seu olhar” para mostrar,
através da narrativa de seus pensamentos, sentimentos e emoções, tudo que existe além das “DIS-HABILIDADES”.
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domingo, 13 de junho de 2010

O papel das narrativas no processo educacional segundo Bruner (1986)


O processo educacional, para ser efetivo, deve manter seu foco na construção de sentidos, já que é dessa maneira que se pode compreender o que ocorre nas interações sociais, fator fundamental para o processo de letramento.

Para uma educação voltada para a construção de sentidos, deve-se partir da construção de narrativas, termo utilizado por Bruner (1986) não somente para se referir às histórias ou acontecimentos presentes na vida de uma comunidade, mas para se referir a tudo o que é dito ou escrito no processo de construção de sentido. Segundo sua teoria, as narrativas são construídas pelos participantes de uma cultura de forma que lhes pareçam uma representação da realidade, ajudando-os a encontrar explicações para os eventos de seu cotidiano, os quais são comumente vistos como naturais ou inevitáveis. No entanto, segundo o autor, mais do que representar a realidade, as narrativas ajudam a construí-la, já que o sentido de tudo o que dizemos ou escrevemos não está dado anteriormente, mas é interpretado pelos participantes nas interações sociais, os quais irão construir sentidos para o que percebem.

As ações narrativas, na visão de Bruner (1986), são influenciadas por estados intencionais, ou seja, o que se diz ou escreve ao narrar um acontecimento é motivado por crenças, desejos e valores. Daí a impossibilidade de uma narrativa ser “fiel ao fato narrado”, seja porque o indivíduo que narra está influenciado por diversos fatores subjetivos, seja porque, ao narrar, está, de certa forma, construindo um novo fato ou acontecimento. Segundo o autor, não existem várias versões de um mesmo evento, mas vários eventos construídos pelas narrativas de diversos indivíduos ao se referirem a um acontecimento que julgam estar livre de qualquer interferência sua. Daí a crença de cada indivíduo de que a sua “versão” do fato é a mais próxima da “realidade”, quando, segundo o autor, não existe tal fato isento da visão subjetiva de cada indivíduo. Tal constatação não implica na não-existência da realidade, mas na construção de sentido sobre a realidade feita pelos indivíduos através das narrativas.

Desta forma, as narrativas têm papel fundamental no processo de letramento porque é através delas que os alunos percebem o mundo à sua volta e conseguem ver sentido no processo de ler e escrever. É importante que esteja claro para eles, no entanto, que não existe apenas uma interpretação para uma narrativa, uma vez que cada indivíduo, com sua história de vida e sua maneira de ver o mundo, irá construir sentidos para a narrativa com a qual está se relacionando, sentidos estes que não precisam ser exatamente os mesmos que seus colegas ou seu professor irão construir; o que não significa que qualquer interpretação seja válida, apenas que cada leitor irá se relacionar com a narrativa de uma maneira única e que sua construção de sentido, desde que bem argumentada e contextualizada, será sempre válida, mesma que seja diferente de outras interpretações para a mesma narrativa. Ao compreender isso, o indivíduo percebe que pode ser autor do próprio texto, ou seja, que não precisa apenas buscar o sentido pretendido pelo autor do texto que está lendo, mas que sempre irá contribuir para o sentido de um texto através do seu processo interpretativo, que é único; além de ter consciência de que o texto ou narrativa que irá produzir também será interpretado de forma diferente por diferentes leitores.

Renata Quirino de Sousa

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Um comentário:

  1. Revelador este texto!
    Poderia indicar o nome completo do autor mencionado e os livros que ele publicou traduzidos aqui no Brasil!

    Marcos Rodrigues Coutinho
    Pedagogo

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