Cutucava Júlia com a ponta do
lápis, impaciente, tentando se livrar um pouco da agitação. Será que só ela se sentia
assim? Sempre mais interessada no “lá fora” do que na aula? Júlia se remexia,
sinalizando que ficasse quieta, mas Luísa sabia que a amiga gostava que a
provocasse.
Enquanto tentava convencer a
amiga a lanchar com ela, percebeu-a estancar. Voltou os olhos pra onde Júlia
olhava, e estancou também. Num ponto do horizonte se abria uma clareira de um
azul esverdeado que parecia pintado, tão vivo estava. A mancha de cor foi
crescendo, crescendo, e, de repente, se podia perceber uma faixa avermelhada no
horizonte ficando mais e mais forte, e, antes que as duas pudessem piscar, já
se formava um céu listrado. Vermelho, azul, verde, amarelo... o arco-íris
parecia sorrir pra elas, cada vez maior.
Luísa pensava no bolo, e no
leite, e na mãe que lhe esperava... mas não conseguia sair dali, encantada. Era
tão raro um arco-íris exibido, se mostrando assim, sem fugir rápido... Pensou no
pote de ouro que diziam haver ali na ponta, e nas mentiras que os adultos
viviam inventando...
Então o arco-íris já tinha outras
cores, estava se espalhando e se misturando todo. Cada vez mais transparente, e
agora já rosa e amarelo e azul claro... Luísa apertou a mão de Júlia, como se
pudesse com isso segurar o arco-íris ali, quietinho. Júlia achou graça do jeito
da amiga. Percebeu um pesar em seu rosto, uma tristeza por saber que assim que
piscassem mais demoradamente o céu voltaria a ser o de antes, só azul e nuvens
passeando.
Quando, finalmente, tudo voltou
ao normal, as duas seguiram, lentas, quietas, pensativas. A garoa cessara.
Luísa pensava que Júlia era
colorida como o arco-íris. Sempre enfeitada, sempre feliz e iluminada.
Júlia pensava que Luísa era fugaz
como o arco-íris. Sempre alegre e em movimento, vinha de repente, iluminando
tudo, e de repente se ia, em busca sabe-se lá do quê...
As duas se olharam, sorrindo,
como se uma adivinhasse os pensamentos da outra. Júlia resolveu aceitar o
convite da amiga. Abraçaram-se, contentes, e saíram correndo em direção ao bolo
de chocolate.
Enquanto olhava as meninas se
lambuzando, felizes e barulhentas, a mãe de Luísa pensava em como a farra delas
coloria sua vida. Luísa e Júlia eram como um lindo arco-íris num gostoso dia de
garoa e sol...
Escrito por Ana Lúcia Sorrentino
em 17/11/2012
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