"MARIANA nos convida para uma interessante jornada, emprestando-nos “seu olhar” para mostrar,
através da narrativa de seus pensamentos, sentimentos e emoções, tudo que existe além das “DIS-HABILIDADES”.
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segunda-feira, 11 de março de 2013

Contando, cantando, criando...

Anos sessenta.
Tempo de Festival da Canção na televisão. 

Eu adorava cantar. Sabia de cor algumas músicas do festival. 

Meu avô achava aquilo uma graça. 
Vovô ligava todo dia para mim, depois do almoço. 
Nossa conversa era sempre assim: ele perguntava o que eu tinha comido no almoço e se estava gostoso, como tinha sido meu dia na escola e pedia para eu cantar para ele. 
Eu sempre cantava para ele:


"Estava à toa na vida,
o meu amor me chamou,
pra ver a banda passar,
cantando coisas de amor."

Aí vinha a parte mais importante:

"O 
velho fraco que contava dinheiro parou"

Eu dizia que era meu avô paterno, que só falava do preço das coisas e era um homem muito alto, de óculos e sempre muito ansioso. Já

"O faroleiro que contava as estrelas parou"
Eu dizia que era meu avô materno, que contava sempre histórias que vinham de livros e outras que ele inventava transformando parentes em personagens. Vovô faroleiro me dava um dinheirinho de tempos em tempos. 

Naquela época eu não sabia distinguir semana de mês.
Ele dava o dinheiro e dizia que era para eu comprar um sorvete.
Mas o dinheiro era tanto que dava para comprar outras coisas.

Eu adorava uma bonequinha pequena chamada Vivinha que tinha na seção de brinquedos da Sears Água Branca. 

E eu guardava meus cobres para comprar a Vivinha. 
Tive uma Vivinha loira e uma ruiva. 
As duas eram bonequinhas flexíveis.
Eram amigas e faziam companhia uma para outra.

E quando eu tinha vontade de tomar sorvete, que era sempre que estava quente, meu avô me levava para tomar sorvete. 
Era um segredo entre a gente, porque lá em casa, como eu tinha muita dor de garganta, meus pais não deixavam tomar sorvete. 
O sorvete de morango que meu avô me dava nunca me provocava dor de garganta. 

Então, logo cedo, descobri que o melhor era tomar sorvete com vovô e só comer bolo em casa. 
E assim caminhava a infância. 

Escrito por Ana Lúcia Brandão (Tucha)

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