"MARIANA nos convida para uma interessante jornada, emprestando-nos “seu olhar” para mostrar,
através da narrativa de seus pensamentos, sentimentos e emoções, tudo que existe além das “DIS-HABILIDADES”.
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sábado, 29 de maio de 2010

O menino de olhos azuis

Mariana compartilhou comigo muitas historia que eram fruto de suas lembranças de infância.
Ela escreveu:
Tinha pouco mais de dois anos.
Pouco sabia do mundo, mas sabia que tudo girava em torno de mim... não suspeitava que pudesse ocorrer alguma mudança nessa minha vida tranqüila...
Vida de criança pequena: dormir, acordar, comer... pesquisar tudo à minha volta... brincar...e dormir outra vez.
Até que um dia, tudo mudou.... sem que me desse conta.

Como era pequena, não podia ver direito quem dormia no berço, mas podia ver quando ele estava no colo. Para mim, ele sempre estava no colo... ele sempre estava chorando.

Tenho uma lembrança muito viva, de estar brincando no corredor, ao lado da cozinha, naquela casa do Alto da Boa Vista, com minhas bonecas e minha cadeira de balanço. Meio contrafeita, posso ver minha mãe com ele no colo, fazendo comida... Esta é uma memória fotográfica que tenho registrada...
Foi assim que, aos poucos, fui me acostumando com a presença do meu primeiro irmãozinho.

Ele era um menino tranquilo, de olhos azuis... de cabelo e pele clara, meu primeiro companheiro de brincadeiras... com quem compartilhei todos aqueles anos mágicos do início da vida.
Foi com ele que descobri os primeiros jogos e travessuras.
Meu irmão de olhos azuis teve um grupo grande de amigos, vizinhos da rua... com quem brincávamos durante todo o tempo em que não estávamos na escola... Bons tempos aqueles! Inesquecíveis!

Foi com ele que iniciei meus estudos naquela nova escola. Eu fui para o primeiro ano ele foi para o pré.
Naqueles primeiros anos, nós dois sofríamos as mesmas reprimendas severas... por não acompanhar a classe como o esperado. Deste modo, sempre íamos assistir aula numa classe abaixo da nossa. Lembro-me da revolta e da humilhação de descer as escadas... para ir para a outra turma.
Pude compartilhar com ele esse sentimento de exclusão.
Seguimos assim, com altos e baixos, até o final do primário, com essa referência de que ele era o último da classe. Que tristeza!

Mas a escola de freiras tinha apenas os 4 primeiros anos, o primário.
Tínhamos que mudar de escola.
Ele foi para o Arquidiocesano. E, frente às exigências de mudar de escola, de ser o primeiro filho, ele passou a ser “o primeiro aluno da classe” pelo resto de sua vida escolar... e mesmo depois, na faculdade. Ele passou a ganhar medalhas de honra ao mérito todos os anos, na festa de encerramento do ano letivo. Que mudança!

Diante de tamanho feito, ele ganhou alguns privilégios exclusivos. Nosso tio, Antonico, que morava no Rio de Janeiro, passou a vir todos os anos para prestigiar os seus feitos. E fez isso por todos os anos até a formatura do meu irmão na faculdade. Como reconhecimento às suas conquistas, meu tio lhe deu de presente, como relíquia de família, a escrivaninha que fora do seu filho.
Seguindo o prestigio conquistado, alguns anos depois, na casa nova, ele ganhou seu quarto de estudo, no anexo sobre a garagem... que era só dele, com direito a escolher uma escrivaninha nova ao seu gosto, que ainda hoje está na casa da mamãe. Era coisa cara, era coisa boa!!!
Enfim, ele merecia!

Foi assim que ele se tornou um “herói”...
o filho mais velho do meu pai, que todos aprenderam a olhar com admiração!

Eu não consegui acompanhá-lo, nos anos do ginásio... continuei com as mesmas dificuldades.
Só consigo me tornar uma boa aluna no colegial.


Suely Laitano Nassif
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2 comentários:

  1. Leio e re-leio essa historia...
    e cada vez mais...
    me dou conta da complexidade dos fatores envolvidos, que falam das expectativas
    que condicionam o olhar da familia e da escola...
    quanto aos sentimentos sentidos, e não expresso...
    que permanecem no contínuo do tempo
    sem ser considerados.

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  2. Muito pequena percebi que todo mundo já sabia ler em casa menos eu. Via meus pais de livros na mão, meu avô de jornal na mão, meu irmão lendo gibis. Aí comecei a imitar. Pedia livro de presente, gibi e ficava olhando as imagens e imaginando as histórias. E a escola então? Ir para a escola era conhecer gente nova, aprender a ler e a escrever. Eu amava a escola. Mas tinha de aprender a ler logo para todos me admirarem. Acontece que foi difícil a tal cartilha do patinho e todo domingo minha mãe estudava comigo. Eu sentia vergonha de precisar dela para me ensinar além da professora. Aí, um dia eu aprendi a ler. Era meu aniversário e fiquei o dia e a noite lendo todos os letreiros que encontrava. Desafiante mesmo era ler os letreiros do Jornal O Estado de São Paulo. Eram rápidos e falam de coisas que eu não entendia mas repetia em voz alta. Meus pais acharam meu aniversário meio chato mas eu adorei! AL Brandão

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