

Minha tia Maisa me presenteava no Natal sempre com um livro fascinante: uma vez “A Branca de Neve” em kirigami, outra vez um livro cartonado da Mother Goose com bonecos fotografados no alto e texto na parte de baixo. Foi lá que conheci a mais maravilhosa imagem do Humpty Dumpty e Twendledee, Twendleduu da minha vida. O universo das imagens também invadiu cedo a minha vida. Eu amava ficar horas olhando imagens em um aparelho chamado View Máster. Com ele passei “virtualmente” no Museu de História Natural com o Pernalonga e Patolino, conheci os sopradores de vidro mexicanos e por aí afora. Eram disquinhos de imagens que se comprava e se assistia no View Master. Eu doei esse material para a Sala de Leitura da Monteiro Lobato e os emprestava ás crianças que pediam.
Meu primeiro quebra-cabeças foi com uma cena da Mary Poppins. Meus primeiros livros de Monteiro Lobato com ilustrações de Manoel Victor Filho foi meu pai quem me deu. Foi quando inconscientemente descobri que o humor que corria pela família era uma fatocitose lobateana. As Mil e uma noites de Malba Tahan foi presente de meu pai também. Havia uma página com uma mulher com as mãos decepatadas que bloqueou a leitura da história. Achei aquilo tão violento que fechei o livro e nunca mais o abri.
Cedo descobri que a leitura de histórias, como os Contos de Andersen pela Editora Bruguera colaboravam sobremaneira no destaque que cedo tive com minhas redações escolares. As histórias alimentam novas histórias, escritas ou contadas. Esse é um processo que me remete a carta do Mundo do Tarô mitológico de Liz Greene. Diz ela: “A serpente do mundo tem dois sexos, masculino e feminino e a capacidade de autofecundação, sendo imortal e completa. È a imagem de Deus e da Natureza fundidas num único símbolo. Os quatro símbolos dos elementos água, fogo, ar e terra, representam os potenciais latentes dentro do ser humano, que esperam para atuar na nova personalidade. Os bastões dourados estão associados à varinha mágica de Hermes, uma vez que a personalidade que acaba de renascer terá condições de se desenvolver com muito mais firmeza dentro dos reinos do sentimento, da imaginação, do intelecto e da razão”. Durante anos, usei a imagem do Amaru, mito peruano e latino-americano como símbolo do contador de histórias: ele enfrenta as adversidades, traz vida de volta à terra e depois as histórias contadas, vividas e ouvidas por ele ficam inscritas em suas escamas, as dele e a de todo povoado.
Ana Lúcia Brandão
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