Quando pequena, que, aliás, continuo sendo, minha mãe nos ensinou a escrever e desenhar com suco de limão, usando um palito de dentes. Depois de tudo seco colocávamos sobre o fogo, no fogão ou numa vela, e magicamente surgia da aparente transparência tudo o que havíamos desenhado. Era fantástica, sempre uma surpresa total, pois ao fazermos os traços tudo era transparente e não tínhamos controle do que estava sendo feito. Apenas o pequeno brilho do caldo do limão e a memória do que a mão havia determinado este exercício de memorizar o espaço, e o que, e onde havíamos rabiscado, ativava minha mente e fazia meus olhos trabalharem em conjunto com a mão e a mente.
Sentia-me aflita quando não lembrava por onde já havia passado o suco do limão. Às vezes também escorria um pouco, e não adiantava secar com um pano, o limão já estava impregnado no papel; noutras o palito secava quase totalmente, mas não podíamos ter certeza se algo havia sido marcado nas folhas de papel ou não.
O aroma delicioso do limão inundava o ar da cozinha.
Na hora de colocar para queimar ficávamos com o olhar preso ao fogo e ao papel, com os olhos bem próximos, tentando adivinhar o que resultaria. Aos poucos ia se delineando a obra prima, trazendo à luz o enigma! Muitas vezes, na ânsia de ver logo surgirem os traços, acabávamos colocando fogo em todo papel. Era sempre um susto! Na tentativa de apagar o fogo no papel assoprávamos... só piorava!
O cheiro de papel queimado passeava por nossas narinas.
Lembro-me que ficava pensando sobre a possibilidade de escrever cartas secretas, contendo instruções, declarações, adivinhações. Talvez um dia quando precisasse enviar uma mensagem em segredo a alguém, poderia lançar mão deste recurso. Os grandes enigmas são fascinantes, em qualquer idade. Todos ignorariam que o papel continha algo nele impresso, pois a aparência era de estar em branco. E apenas quem conhecesse o truque poderia desvendar os mistérios ali contidos.
Gostávamos meu irmão e eu, de mostrar isso aos nossos amiguinhos, Fernando e Marcio, e até mesmo a MARIANA muitas vezes participou conosco destes momentos. Dedico a ela estas lembranças.
Hoje, ao tentar repetir a façanha, percebi que apesar do passar dos anos e do aparente aumento da coordenação motora, o descontrole sobre o resultado da aparição do desenho é o mesmo. E quase coloquei fogo na cozinha novamente. Bateu uma grande saudade da infância!
Escrito por Eloísa Falcomer
São Paulo, 1 de junho de 2013.
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