CHICLETE? Coisa proibida. Aquele cheirinho de Tutti Fruti, que até virou música da Rita Lee anos mais tarde... Ah, o chiclete.
Eu tinha um irmão mais velho que chupava chiclete de Tutti Fruti Babaloo. E havia figurinhas-surpresa. Eu tinha por volta dos quatro anos e nada. Fui consultar minha mãe. Ela disse que chiclete só quando eu fizesse sete anos. Nossa, mas falta muito tempo - tenho ainda de fazer cinco e depois seis anos para só então chegar aos sete anos.
No ano seguinte, um dia, com meu avô no sofá verde, que ficava ao lado do telefone preto, tijolão, ele me contou que crianças pequenas não podem mesmo chupar chicletes. Por quê? - perguntei circunspecta. Porque existe a história da menina que foi chupar chiclete de bola, fez uma bola grande, alguém lhe deu um susto pelas costas. Ela então engoliu o chiclete inteiro e morreu sufocada. Nossa, fiquei impressionada com aquilo, mas meu avô era um tanto exagerado em tudo que contava sabe? Eu via meu irmão chupando chiclete-hortelã da Ploc, Tutti Fruti da Babaloo e, ele nunca engasgou nem nada.
Então, passado algum tempo, eu fiz finalmente os tais sete anos. Foi diferente do que eu pensava, porque já tinha algumas janelinhas na boca. Fiz meu irmão logo cedo comprar um monte de chicletes para mim. Amei o gosto do tutti fruti na boca se desmanchando. E masquei, masquei, ajudava também a coçar gengiva que estava esperando dente novo nascer. Ai eu pedi para o meu irmão fazer uma bola com o chiclete. Ela saiu redondinha e cor de rosa e depois vem a língua e ploft, estoura a bola e faz aquele som divertido. Eu então juntei um quadradinho na boca com o chiclete, pus a língua bem no meio e lá veio a bola de chiclete. Uma maravilha e fechei a boca e ploft. A bola estourou. Adorei isso tudo.
Aí teve um dia que ia ser minha formatura de primeiro ano. Mamãe tinha comprado um vestido branco, com rendinhas nas pontas. E um sapato de verniz preto, lindo de tão brilhante. E eu vesti meias brancas rendadas (era moda naquele tempo...). Só que antes de me vestir, o meu irmão me deu um chiclete. Não resisti. Estava tão feliz que resolvi fazer a maior bola já feita por mim. E BUM! Ela estourou no meu rosto todo. Eu fui para o banheiro tentar tirar aquele chiclete todo que se espalhou pelo rosto. Grudou feito cola preta. Um horror. Ela ficou fula da vida.
Onde já se viu uma formanda com o rosto todo sujo de chiclete. Eu achei engraçado. Aí ela resolveu esfregar o meu rosto com Leite de Colônia. Até que melhorou. Mas como minha pele era muito fininha, branquinha e frágil, começou o rosto a ficar todo vermelho. E para apagar o vermelho ela passou pó de arroz, igual àquele que a Emília usava. Adorei tudo isso. Mas ela ficou frustrada. Queria uma filha mais feminina e menos moleca. E eu? Bem, eu sempre gostei de ser assim e ser assado. Só assim a vida pode ser divertida. E lá fui eu de roupa nova, toda feminina e com o rosto "escalavrado" no dizer de minha mãe, que devia ser algo muito grave.
Escrito por Ana Lúcia Brandão
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