A
tempestade rugia feroz na noite escura.
A chuva
desabava como um grande dilúvio, em meio a relâmpagos e trovoadas.
Por todo
lado só havia escuridão.
ICA
tentou ligar a luz do abajur e não havia energia.
Todos
dormiam, menos ICA, que de olhos arregalados, observava os pingos da chuva
batendo na vidraça da janela, como se quisessem entrar, empurrados pelo forte
vento que uivava lá fora fazendo a cortina esvoaçar.
Cada
relâmpago trazia para dentro do quarto, figuras terríveis: mãos gigantes subindo
pelas paredes, sombras de asas enormes e escuras, ora num canto ora noutro,
olhos apavorantes que apareciam aqui e ali brilhando no escuro e se misturando
à luz dos raios.
ICA
tremia.
Em um dos
clarões, ICA viu seu ursinho cair da cadeira onde o deixara e sumir na
escuridão do tapete.
O quarto
estava um caos, ICA sufocava de medo.
Junto com
o barulho da chuva e do vento Ica começou a escutar um som forte e ritmado (PAM
PAM, PAM PAM, PAM PAM) que parecia vir de todos os lados (PAM PAM, PAM PAM, PAM
PAM)
ICA
fechou os olhos, tapou os ouvidos, mas o som continuou mais alto e mais forte (PAM
PAM, PAM PAM, PAM PAM) fazendo Ica tremer ainda mais.
ICA
tentou gritar, mas o grito ficou preso na garganta, e depois, com todo o
barulho da tempestade e aquele (PAM PAM, PAM PAM, PAM PAM) aterrador, ninguém
ouviria mesmo.
ICA puxou
o cobertor sobre à cabeça e o barulho imenso pareceu mais forte (PAM PAM, PAM
PAM,PAM PAM)
ICA
começou a chorar.
Nisso ela
ouviu, vindo de muito longe, a voz de sua avó: - Calma ICA...
A avó de
ICA, já havia ido para o céu há um tempo, que para ICA parecia muito tempo. ICA
sentia muita saudade dela e lembrava sempre das coisas que em vida ela lhe
dizia; e agora ela ouvia como se a avó lhe falasse através da tempestade:
_ICA,
Você é uma bruxinha!
_Como
todas as meninas você tem poderes!
_Não
esqueça nunca, quem tem poderes tem responsabilidades!
_ Procure
sempre o lado bom em todas as coisas!
_Tenha
sempre amor e respeito por você e por todos os seres da natureza
A voz da
avó parecia sair de dentro do (PAM PAM, PAM PAM, PAM PAM) que tanto a
assustava:
_ICA, não
tenha medo! É apenas uma tempestade, está lá fora e já vai passar. As coisas
que tanto a assustam, os monstros, as sombras, são apenas sua imaginação, são
ilusões criadas pelo medo.
ICA
afastou o cobertor da cabeça e olhou para o quarto. As sombras, as asas, os
olhos estavam por todos os lados; a chuva na janela, as cortinas esvoaçando,
tudo continuava lá, fazendo ICA tremer de medo.
A voz da
avó sussurrava através do (PAM PAM, PAM PAM, PAM PAM) que parecia ainda vir de
todos os lugares:
_ICA,
lembre-se da magia que ensinei pra você usar quando tivesse medo!
ICA
lembrou da grande mágica, como poderia ter esquecido, usava sempre quando
estava triste ou se achava em perigo. ICA respirou fundo e se preparando para o
ritual, cruzou as mãos sobre o peito, fechou os olhos e rezou: _Ave Maria,
cheia de graça...
Enquanto
rezava, ia esquecendo a tempestade lá fora e o terror dentro do quarto.
_Bendita
sois vós entre as mulheres...
O (PAM
PAM, PAM PAM, PAM PAM) , foi diminuindo...diminuindo... diminuindo... e ficou
bem suave do lado esquerdo do peito de ICA; seus olhos foram fechando... fechando...
e sentindo o perfume de sua avó, sentiu o doce calor do beijo dela em sua testa
antes de adormecer ao som de seu coraçãozinho (pam pam, pam pam, pam pam).
Escrito
por Ana Nunes (Ica)
Nenhum comentário:
Postar um comentário