"MARIANA nos convida para uma interessante jornada, emprestando-nos “seu olhar” para mostrar,
através da narrativa de seus pensamentos, sentimentos e emoções, tudo que existe além das “DIS-HABILIDADES”.
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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Como se dá a aprendizagem de leitura e escrita segundo as novas teorias de letramento?

As novas teorias de letramento, que tiveram início nas idéias de Freire (1970) e que hoje contam com diversos autores, propõem que é na construção de sentidos que se dá a aprendizagem da leitura e da escrita. Essa construção de sentidos requer um envolvimento direto do leitor com o texto, ou seja, um precisa passar a fazer parte do outro, para que o sentido transite e possa ser construído. É por isso que leitores diferentes vêem os mesmos textos de forma diferente, já que ler e interpretar envolve utilizar as próprias ferramentas, histórias de vida, sensações e visões de mundo, que são únicas de cada indivíduo.

Com base nessa premissa, os autores dos novos letramentos apontam para a necessidade de os professores adotarem uma visão de letramento que seja mais flexível e abrangente, já que, segundo as teorias do letramento crítico, tornar alguém letrado vai além de torná-lo capaz de decodificar o alfabeto, formar palavras, utilizar a gramática corretamente e responder perguntas de compreensão. Compreender o processo de letramento como uma prática sociocultural implica em compreender o processo de leitura e escrita e sua aquisição como um processo contextual, que depende das práticas sociais, culturais, políticas, econômicas e históricas que o permeiam.

Lankshear & Snyder (2000) também propõem uma perspectiva sociocultural de letramento, apontando para as três dimensões ou aspectos que compõem a prática de ensino e aprendizagem – o aspecto operacional, o aspecto cultural e o aspecto crítico.
O aspecto operacional inclui competência com as ferramentas, técnicas e procedimentos necessários para lidar com o sistema de língua escrita, além de levar em conta a gama de contextos em que um determinado texto pode ser lido.
A dimensão cultural do letramento se refere à competência relacionada ao sistema de construção de sentido, ou seja, à capacidade de compreender o texto em relação aos contextos de leitura.
Já o aspecto cultural do letramento envolve a conscientização de que todas as práticas sociais, e, conseqüentemente, todas as formas de letramento, são socialmente construídas, ao mesmo tempo em que são seletivas, ou seja, incluem algumas representações e classificações, como valores, regras, padrões e perspectivas, ao mesmo tempo em que excluem outras.

O fato de que o ensino de leitura e escrita é geralmente feito sem que se explicite que se trata de uma prática socialmente construída faz com que os alunos não tenham um papel ativo nesse processo, tornando mais difícil uma possível tentativa de mudança (Lankshear &, Snyder 2000). Essa proposta de letramento, focada em três aspectos – operacional, cultural e crítico - tem o objetivo de complementar e suplementar as competências técnicas através de sua contextualização. Ao invés de se manter o foco no conhecimento sobre “como fazer”, essa proposta sugere que se adéqüe a prática ao contexto cultural e histórico. Dessa forma, o que se aprende na escola pode servir para as relações que se estabelecem também fora dela, ou seja, as práticas escolares podem ter maior relação com as práticas sociais autênticas com as quais os alunos irão se deparar durante suas trajetórias de vida.

Renata Quirino de Sousa

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